Na coluna desse mês resolvi escrever sobre algo que eu adoro, porém ainda não havia escrito, sobre vinhos. Alguém pode se perguntar o que vinho tem a ver com uma coluna chamada “Mundo”? Pois bem, vinho tem tudo a ver com história, geografia, política etc. desde o início da civilização o vinho esteve envolvido em guerras, migrações, assentamentos, colonização, turismo, comércio etc. – isso sem falar de filosofia.
Apesar de eu não ser um expert no assunto, o uso razoável e algum estudo teórico – fiz o curso de sommelier do Centro Europeu em Curitiba – me deram alguma experiência. Alguns amigos sempre me perguntam: “Qual é o vinho que você mais gosta”? Bom, essa é uma pergunta extremamente pessoal e cada vinho é uma experiência diferente, mesmo sendo do mesmo produtor, pois existem variações de uvas, safra, solo, clima, insolação, técnicas de produção etc., mas vou tentar responde-la ao final.
As pessoas quando estão iniciando no mundo do vinho tendem a escolher o vinho pela uva, porém isso é um tanto quanto complexo, pois uma determinada uva cultivada na Argentina geralmente faz um vinho extremamente diferente da mesma uva cultivada na França, os demais fatores (aqueles geográficos chamamos de terroir) são tão, ou mais, importantes que a espécie de uva. Vou dar alguns exemplos, uma uva Pinot Noir – uva muito popular pra quem está iniciando nesse mundo – produzida na Califórnia fará um vinho muito mais encorpado que a mesma uva produzida no Chile, já a Malbec – que é uma uva francesa – se adaptou muito melhor as condições climáticas da Argentina do que de sua terra natal. Portanto escolher o vinho apenas pela uva pode não ser o mais indicado, além de que vinhos europeus raramente exibem o tipo de uva no rótulo.
Quando falamos de vinho, dividimos o mundo em dois: velho mundo e novo mundo. Diferente da geografia tradicional, no mundo do vinho, o novo mundo pode englobar partes da África e Ásia, o que pra geografia é considerado velho mundo. O velho mundo do vinho é basicamente a Europa, Oriente Médio e Norte da África, a região mais em torno do mar mediterrâneo, que produz vinhos desde os primórdios da civilização. O novo mundo do vinho, além de englobar América do Sul, América do Norte e Oceania (basicamente Austrália e Nova Zelândia) abrange a África do Sul e o extremo oriente (basicamente China e Índia). Todos esses vinhos, incluindo os do Novo Mundo, utilizam uvas europeias, nenhum vinho de qualidade superior utilizam uvas nativas do continente americano, por isso que as uvas mais famosas tem nomes franceses e, as vezes, italianos, porém existem grandes uvas espanholas, portuguesas, húngaras, gregas, alemãs etc.
Se você escolhe vinho apenas pela uva, pode estar perdendo de conhecer, talvez, a parte mais interessante desse mundo, que é o velho mundo, pois os vinhos de lá não costumam exibir o tipo de uva no rótulo, essa é uma invenção do novo mundo, porém devido ao forte consumo norte-americano, onde se tem a tradição de exibir a uva no rótulo, alguns vinhos europeus começaram a exibir a uva no rótulo. Na Europa, muitas vezes, um vinho é feito com vários tipos de uva, não tendem a ser varietais (quando se usa só um tipo de espécie) e o que aparece no rótulo é apenas o país (vinhos mais simples) ou uma região específica, como a famosa Champagne que só pode ser produzida por uvas cultivadas naquela pequena região [Champagne], utilizando uvas específicas, com graduação alcóolica específica e métodos de produção específicos. Caso não seguir alguma especificação obrigatória dessa região o vinho não poderá levar o nome “Champagne” e será um mero espumante (as vezes até tão bom quanto, mas sem o mesmo valor de mercado pro vendedor e nenhuma garantia de qualidade pro comprador). Essa lógica, porém com especificações diferentes, servem pra outros vinhos regionais europeus como: Bourdoux, Bourgogne, Barolo, Amarone, Chianti, Brunello di Montalcino, Chateuneuf-du-pape etc. Portanto um vinho europeu se compra pela região e não pela uva, embora todas essas regiões possuem uma ou várias uvas que são obrigatórias e outras opcionais, depende muito de região pra região.
Uma outra coisa que eu considero importante saber é qual países produzem bons vinhos, vou fazer uma divisão minha, pessoal, entre time A, B e C:
- França, Itália, Espanha, Portugal, Alemanha (brancos), Estados Unidos (costa oeste), Canadá (brancos de sobremesa), África do Sul, Argentina, Chile, Austrália, Nova Zelândia (brancos e Pinot Noir) e Hungria (brancos de sobremesa);
- Grécia, Croácia, Tunísia, Marrocos, Israel, Líbano, Alemanha (tintos), Inglaterra (espumantes), Uruguai, Brasil (brancos e espumantes), Canadá (brancos seco), Nova Zelândia (demais tintos);
- Brasil (tintos), Peru, China, Índia, Japão;
Tudo o que escrevi é o básico do básico do mundo do vinho, se você está começando a se aventurar agora nesse aventura etílica, lembre-se de nunca deixar de experimentar coisas novas, beber vinhos diferentes, de países diferentes, de uvas diferentes, de produtores diferentes pois cada vinho tem uma história e quando tomamos vinho, de certa forma, estamos bebendo sua história. Você não precisa gastar rios de dinheiro pra tomar vinhos diferentes, embora no Brasil temos um custo-benefício melhor pra vinhos argentinos e chilenos, é possível encontrar ótimos vinhos com preços modestos de outras regiões do mundo, siga essas dicas e não tenha medo de experimentar.
Bom, pra terminar, agora preciso responder de meu gosto pessoal, vamos lá:
Vinhos tintos novo mundo – Cabernet Sauvignon dos EUA (Napa Valley) e Austrália (Margaret River), Malbec e Cabernet Franc da Argentina, Shirraz da Austrália e Chile, Pinot Noir dos EUA e Nova Zelândia.
Vinhos tintos velho mundo – Chateuneuf-du-pape (França), Brunello di Montalcino (Itália), Amarone (Itália), Douro (Portugal), Toro (Espanha), Barolo (Itália). Os grandes vinhos franceses são de Bourdoux e Bourgogne, porém (pro meu gosto) o custo-benefício não vale muito a pena, pois os vinhos medianos não acho tão bons quanto das outras regiões citadas (a quais também não são baratas), mas isso é pessoal e extremamente questionável;
Vinhos brancos novo mundo – Sauvignon Blanc da Nova Zelândia e Chile, Chardonnay dos EUA e Argentina;
Vinhos brancos velho mundo – Chateuneuf-du-pape (França), Bourgogne (França), Pinot Grigio da Itália, Riesling dry da Alemanha, Vinho Verde (Portugal) e os vinhos roses da região de Provence (França).